Joelma é uma pessoa apaixonada por plantar e comer caju.
A história é assim desde sempre, iniciada muito antes que ela se tornasse médica veterinária pela Universidade Federal da Bahia e, no dia seguinte à formatura, montasse uma mesinha nos fundos de uma garagem onde, com um litro de álcool e um termômetro, passasse a oferecer seus serviços.
Ela já gostava de plantar e comer caju quando teve sua primeira grande alegria na profissão: comprar a pia do seu escritório veterinário, numa cidadezinha ao norte da Bahia, que só tinha aquela mesinha modesta e a vontade de fazer a diferença para quem precisasse dela.
Para quem, assim como Joelma, gosta de plantar ou, ao menos, comer caju, a regra é clara: aproveita-se dele o fruto e a castanha; mas, enquanto o primeiro pode adoçar ou amargar a boca em um primeiro contato, o segundo demanda um pouco mais de cuidado para ser consumido. Afinal, o fruto é a castanha, que demanda uma torra inicial para que, ao fim de determinado tempo, extraia-se do caju seu sabor mais precioso.
A vida, principalmente na medicina veterinária, pode ser comparada ao caju: é até bem doce, mas só os apaixonados por desafios – e pacientes em sua alma – vão conseguir desfrutar de absolutamente tudo o que ela tem a oferecer.
Joelma Trigo planta exatamente o que ela colhe. E, nesse caso, não é só de caju que estamos falando.
Aos oito anos, foi morar em um sítio cheio de bichinhos. Não pense que o amor pela veterinária nasceu organicamente daí, como uma semente milimetricamente cultivada: ela queria, mesmo, era ser professora, mas descobriu que a profissão não seria a melhor escolha enquanto gritava com os “alunos” ao brincar de escolinha.
Uma vez que essa não era uma escolha viável, pensou em ser veterinária. Deu certo.
Depois de se formar e levar um álcool, um termômetro e uma pia de consultório para passear, acabou fazendo uma entrevista em um espaço grande na cidadezinha de Camaçari, a poucos quilômetros de Salvador. Se apaixonou pelo que viu logo de cara e pensou que, um dia, compraria aquele lugar. Só tinha um problema: se não fosse aceita no emprego, não teria nem como voltar para casa, pois só conseguiu a grana da condução de ida. Como ser dona de milhares de metros quadrados de um espaço para animais?
Em cada estrada, caminhada…
A moça que começou sozinha trabalhou duro, ganhou clientela, abriu sua própria clínica e se tornou a principal gestora de uma equipe que, hoje, conta com onze pessoas.
Uma história que começou modesta e se tornou uma empresa respeitada não é tão breve quanto um parágrafo, e não se transforma em “história de sucesso” do dia pra noite, assim, sem encarar nenhum desafio. A própria gestão dos negócios é um deles, que a médica veterinária não tinha, àquela época, se preparado para enfrentar.
Com sistemas arcaicos de relação de compras, vendas, passivos e ativos, a empresa, batizada de Clinvet, passou por poucas e boas para se estabelecer no mercado. Quase que não dá certo.
Como toda história poética deve ser, essa conta com uma fada madrinha capaz de mudar o rumo das coisas e transformar completamente a vida de Joelma.
Joelma Trigo, CLINVET – Salvador (BA)
Daquelas capazes não só de mudar a realidade de uma só pessoa dentro de uma empresa, mas, também, de toda uma equipe e dos animais que contavam com a estrutura criada com carinho para a garantia de seu bem estar. O nome dessa fada é Cris.
A chegada de Cris foi meio repentina, mas crucial: ela devia cuidar da parte administrativa da Clinvet como se a empresa fosse sua. Era salvar ou salvar os negócios de uma espiral perigosa de desorganização. O desafio era tão pesado que Cris chegava em casa chorando por não achar nenhuma forma de analisar os dados que ela tinha em mãos.
Um dia, com lágrimas nos olhos, Cris pediu socorro ao marido, Josafá, especialista em sistemas: ele precisava ajudá-la a organizar e achar um significado para as informações que ela trazia em um pendrive. Sua súplica era tão urgente que fez parecer como se o pequeno dispositivo fosse a resposta para toda sua vida.
Josafá logo viu que estava frente a frente com um pedido que não poderia recusar. E foi aí que nasceu a SimplesVet.
Depois de um Excel básico, Josafá pensou em novas soluções para aplacar as lágrimas da esposa e dar sobrevida gerencial à clínica de Joelma. Juntando-se a alguns colegas, desenvolveu um software de gestão que tinha como único objetivo ser simples, uma vez que a simplicidade torna tudo intuitivo.
A Clinvet, então, foi uma das primeiras clientes de uma nova empresa de tecnologia que, hoje, conta cerca de 2.000 clientes.
Joelma Trigo, CLINVET – Salvador (BA)
Para quem acredita em destino, esse é um prato cheio: uma criança que não queria ser veterinária presta o vestibular, se apaixona pelo curso, se torna uma sonhadora dentro de seu mercado e contrata alguém que acabou melhorando não só a empresa dela como, também, tantas outras pelo país afora.
Como a história é gentil com quem a escreve, não ter sido professora foi um desvio de percurso, mas o trem voltou rapidinho para a rota, com a presença da veterinária em sala de aula para se dedicar à pesquisa sobre leishmaniose. Não existiram alunos em sala, mas cada cliente que aprendeu a cuidar melhor de seu animal se tornou um aprendiz de como as coisas devem ser, e isso bastava.
Com todas as lições devidamente aprendidas, eles começaram a qualificar Joelma pelos serviços prestados. O resultado é a nota máxima nas pesquisas de satisfação com seus clientes. Existe a certeza absoluta de que, se os animais pudessem votar, a nota seria a mesma.
… caminhada pra colher amor
Hoje temos uma história bonita com um final feliz: a veterinária que tem muitos bichinhos, amor, dedicação e uma clínica com infraestrutura de ponta para cuidar de todos eles não se arrependeu do seu caminho. Vencendo cada desafio, viu que cada uma das escolhas foi a melhor possível.
Ah! E sabe aquele espaço lindo e grande, pelo qual Joelma se apaixonou quando fez uma entrevista sem dinheiro para o ônibus, que ela podia jurar de pés juntos que um dia seria dela?
Pois então: hoje é.
Joelma conseguiu comprar tudo e transformou alguns milhares de metros quadrados em uma verdadeira Disneylândia para cães e gatos. O espaço onde hoje funciona sua clínica é, também, um hotel feliz para aqueles que ela se esmera tanto em cuidar, junto de sua equipe, sempre acolhedora e simpática.
Quando finalmente pôde chamar aquele espaço de seu, ela pendurou uma plaquinha na porta que dizia assim:
Quando você pisar nesse gramado, tome cuidado: você está pisando nos meus sonhos.
Joelma Trigo, CLINVET – Salvador (BA)
A placa não existe mais, talvez até por inutilidade: o sonho de Joelma não está só no gramado, mas também na clínica, no pet shop, nos olhos da equipe que alimentam e constroem a releitura de seu desejo de promover o melhor atendimento possível à população animal.
Joelma plantou um sonho que acabou virando um jardim de possibilidades infinitas. E, por potencial e merecimento, sua iniciativa será bem maior do que é hoje: em pouco tempo a Bahia terá poucos hectares de terra para a grandeza da dedicação dessa mulher que, se deixassem, colocaria todos os animais do mundo para dentro de casa.
A julgar pelo gigantesco cajueiro que a Clinvet ostenta em seu jardim, uma coisa é certa: os pés que pisaram o gramado do lugar preferido de Joelma bateram a terra e seus rastros ainda hoje adubam o solo de maneira indelével.
Nem o céu é o limite para o que ela ainda vai plantar e colher pelo mundo afora.
E, apesar de ela gostar muito de plantar e colher caju, não é só de caju que estamos falando.